Escrevo, hoje, aqui, a várias centenas de quilómetros da cidade onde vivo, Setúbal, e do meu país. Por estes dias, apresento um espetáculo de marionetas em dois festivais espanhóis, o primeiro em Madrid e o segundo, em Valência, onde me encontro. Por estar longe, acompanho o devir noticioso com algum desfasamento no tempo, afastado fisicamente daquilo que sucede nestes tempos de clarificação política e (em larga medida) social.
Confesso-me simultaneamente preocupado e otimista, o que talvez pareça confuso ou mesmo contraditório. Explico. Preocupado porque, face a uma leitura superficial dos resultados, a coligação da direita venceu as eleições. Nesta linha de ideias, não antevejo melhores dias para as artes e a vida cultural portuguesa. A continuarem as políticas de extermínio dos apoios públicos à atividade artística e à cultura, em geral, vamos confrontar-nos com o desaparecimento de mais projetos e a ruína do património e da tradição, bem como com a impossibilidade de criação ou o surgimento de novas propostas artísticas.
Todavia, procurando aprofundar os resultados e as possíveis consequências da expressão da vontade popular, os partidos que se posicionam na ala esquerda do parlamento português garantiram a maioria dos votos e dos deputados. Apercebo-me, também, com agrado que há disponibilidade para gerar novas lógica que garantam uma dinâmica de unidade à esquerda.
Para o bem de todos nós, é necessário fechar este ciclo de aniquilamento e autoflagelação. Acabar com a austeridade, promover a produção, investir no nosso país e nas suas riquezas.
A cultura e as artes, em particular, podem assumir um papel fundamental no desenvolvimento do país. Para isso precisamos de um governo de esquerda, que apoie aquilo que temos de melhor: o capital humano.
Fotografia de Buscavientos