Vivemos, nestes últimos longos quatro anos, com um ministro da Educação e Ciência que tudo quis alterar, tudo tentou sonegar, e, em nome da racionalização, tudo quis justificar. As escolas perderam quase um quarto do financiamento. É simples: menos professores, menos alunos, menos unidades orgânicas e muitos contratos com o exterior, nomeadamente para a concessão de refeitórios e para as empresas de limpeza das escolas. E ficaram os cheques-ensino para regulamentar, numa fase em que as despesas com o material escolar dos alunos não têm qualquer abatimento no IRS das famílias, enquanto as das mensalidades pagas no ensino particular merecem ter esse abatimento.
Já aqui escrevi várias vezes sobre o que se alterou desde 2011. Não valerá muito a pena voltar ao assunto. Todavia, não posso deixar de abordar alguns temas que me parecem paradigmáticos, tendo em conta as saudades que não vamos ter deste ministro.
Crato e a revisão curricular: – Importantes são os números e as letras. Mais Português e Matemática, menos tudo o resto, em especial o que se refira a cidadania. Cidadania para quê? Para que interessa se queremos no país e na escola pública alunos que pensem pouco, reflitam pouco, e que, essencialmente, não questionem muito. De preferência, que nem votem e que possam reprovar muitas vezes. Até Jaime Silva, dirigente da Associação de Professores de Matemática, alertou para o facto de, “No que diz respeito à Matemática [haver] uma desmotivação crescente de professores e alunos, com uma disciplina que regressou aos anos 60-80 do século passado, com uma abstração precoce e exagerada, que tão mau resultado deu na altura”. Por isso se queixam hoje os professores do 1.º ciclo, que têm de trabalhar matérias para as quais o grau de abstração dos alunos dos 3.º e 4.º anos não chega. Crato tem de ler António Damásio.
Crato e os exames formaram uma dupla inseparável. Não tanto pelos exames em si, mas muito mais pelas condicionantes que colocam em todo o processo de ensino e de aprendizagem. Em maio, os exames dos 4.º e 6.º anos tiveram um reflexo muito negativo. As escolas pararam, os professores não deram aulas para corrigir provas, os professores do 1.º ciclo, em detrimento do Estudo do Meio e das áreas das Expressões (Dramática, Físico-motora, Plástica, Musical), apostaram durante todo o ano, essencialmente, no Português e na Matemática. Que ditadura instituída. Sem Expressões não há criatividade!
Outra grande bandeira de Crato foi a qualificação e o acesso dos professores à profissão. Os professores já são qualificados para a docência. Portanto, ou existe uma Ordem de Professores que valida, através de uma prova e/ou Estágio, o seu ingresso no mercado de trabalho, ou não pode ser o Estado que “monta” as suas formações, as avalia positivamente, para, depois, à posteriori, as avaliar de novo pondo em causa o seu trabalho inicial de formação e de verificação da sua qualidade, concluindo que há professores que não estão aptos para desempenhar a profissão docente.
No Ensino Vocacional, Crato foi “beber” muito dos cursos de “aprendizagem” que o IEFP desenvolvia por volta de 2005. Um erro colossal. Em face das avaliações existentes, pode afirmar-se terem sido um autêntico fracasso. Para muitos, trata-se de uma oferta de segunda categoria, que só parece ter motivo de existir para se acabar com os cursos CEF (Cursos de Educação e Formação) e com os PCA (Percursos Curriculares Alternativos), criados através do Despacho Normativo n.º 1/2006, de 6 de janeiro.
Todos já sentimos os reflexos desta política, que pouco valoriza as diferentes aprendizagens que a escola deve proporcionar a todos os alunos, especialmente aos mais desfavorecidos, que não têm onde as adquirir. O que conta para Crato é unicamente as metas que, sendo importantes, não podem funcionar como “marcadores genéticos” desta geração. Merecemos todos muito mais do que isto!