Estávamos a 27 de Julho de 1995, quando foi dado o primeiro passo na história do ciberjornalismo em Portugal: o Jornal de Notícias (JN) começava a publicar notícias online. Concretizava-se assim aquilo que começara a ser suscitado dois anos antes, com o primeiro registo de domínio próprio por parte de um órgão de comunicação social: rtp.pt (28 de Maio de 1993). Pelo meio surge o Setúbal na Rede, igualmente pioneiro nesta história, ao ser o primeiro jornal exclusivamente digital em Portugal.
“Um português a viver em Espanha pergunta: - Alguém sabe se é possível obter notícias de Portugal, por rede?. A resposta não se fez esperar. Batista diz que sim e explica: - O Jornal de Notícias abriu ontem a sua edição online, que creio que é a primeira do país. Para além de fotos das primeiras páginas do dia, há resumos de algumas notícias, um pouco de história do jornal e um reduzido banco de imagens”, podia ler-se na crónica Comunicarte, de Helder Bastos, publicada a 5 de Agosto de 1995, no JN.
Durante estes primeiros 20 anos, há muitas estórias para contar. Um percurso que foi sendo acompanhado precisamente por Helder Bastos, desde a primeira hora. O facto de na altura estar no JN como jornalista, permitiu-lhe ter um lugar privilegiado. Desde então que tem registado tudo o que pode. Para além de dezenas de artigos, conferências e alguns livros, destacamos “Origens e evolução do ciberjornalismo em Portugal: Os primeiros quinze anos (1995-2010)”, publicado em 2010. Neste livro o autor identifica três fases: a implementação (1995-1998), relacionada com a chegada dos primeiros meios à rede; o boom (1999-2000), com uma corrida desenfreada à criação de meios e de investimento em recursos, nomeadamente a criação de redacções online; e a estagnação (2001-2010), um longo período onde nada de novo aconteceu. Resumidamente, a primeira quinzena de anos é considerada, “em boa parte, uma oportunidade perdida” (idem). Sobretudo pela falta de visão de quem gere e administra os meios. De então para cá, pouco mudou, à excepção da “febre” das redes sociais – o espaço online privilegiado para aceder a notícias – e dos dispositivos móveis.
Igualmente interessante nesta história, são os apontamentos a propósito da informatização das redacções. A primeira a fazê-lo terá sido a d’O Comércio do Porto, ali por 1985. “No semanário Expresso e no Diário de Notícias, a substituição das máquinas de escrever pelos computadores aconteceu em 1988” (ibidem). Há ainda registos de movimentações no mesmo sentido, dadas pelo Diário de Coimbra, em 1986 [1], embora outros autores apontem 1983/1984 como o período de entrada dos computadores nas redacções portuguesas.
Estes 20 anos foram igualmente percorridos pelos meios regionais, com a imprensa a destacar-se. Não só nos primeiros passos, como na tomada de consciência – ainda que lentamente – de que passou a ter um meio extra para trabalhar e publicar notícias. Em comum com os meios de maior dimensão – designados de nacionais – têm a eterna questão do modelo de negócio, isto é, ainda se procura aquele que seja mais eficaz, rentável. Pelo meio perderam-se algumas das poucas redacções online existentes, com os jornalistas – que são cada vez em menor número das redacções – a acumularem a produção para múltiplos meios. O desgaste aumenta, tal como a perda de qualidade. Porém, nunca, como antes, tantas pessoas souberam tão pouco sobre tanta coisa. Isto por causa dos blogues, do Facebook, do Twitter, do Instagram e de tantos outros espaços online.
Uma vintena de anos depois, importará questionar: Para que serve o jornalismo? E os jornalistas?
Por ora, termino. Falamos depois.
[1] Jerónimo, P. (2013) Ciberjornalismo de proximidade: A construção de notícias online na imprensa regional em Portugal. Tese de Doutoramento. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto.Nota: Autor não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.