Entre os dias 19 e 26 de outubro, a Rato - ADCC vai ser promotora de “ErasmusPlay” - um intercâmbio de jovens financiado pelo Programa Erasmus Mais - Juventude em Acção que visa a promoção de diálogo intergeracional e intercultural através do jogo, no seu conceito mais lato. Este intercâmbio vai ter lugar na Costa da Caparica e no Miratejo e vai envolver 30 jovens participantes de 5 países (Portugal, Espanha, Estónia, Polónia e Turquia) que irão interagir no âmbito das atividades com vários cidadãos seniores do Seixal. Como culminar deste intercâmbio, vai-se realizar uma Lan Party - um encontro de jogadores de jogos informáticos para jogarem e conviverem presencialmente, podendo os participantes dormirem no local. Este evento terá a particularidade de ser intergeracional pois os jovens participantes irão interagir com diferentes idosos do concelho do Seixal.
Este projeto marca uma forma de entender o trabalho e a sustentabilidade do trabalho na área da Juventude: o diálogo intergeracional.
Pensar Juventude como uma perspetiva etária em Portugal é uma impossibilidade. Tornou-se uma impossibilidade porque fomos tarde demais - na altura em que devíamos ter feito os investimentos necessários não o fizemos. Quando as “vacas magras” chegaram para ficar, Portugal não mudou mentalidades em temas como a Educação Não Formal ou Juventude e agora o elo mais fraco é jovem que não interessa e não se interessa… há uma geração juvenil que, na sua maioria, foi formatada com uma visão de uma sociedade competitiva e materialista. Não se trata de ver o copo meio cheio ou meio vazio - trata-se se perceber o que está lá dentro.
Perante este cenário, as organizações portuguesas que trabalham na área da Juventude vão ter de abandonar um modelo com enfoque exclusivamente juvenil e procurar outros “terrenos”, dialogando com outros públicos e outros atores sociais. A própria mudança da estrutura etária da sociedade portuguesa faz-nos pensar que, com a diminuição de jovens neste país, o que é que vai acontecer às organizações de Juventude - desta forma, as estratégias de sobrevivência destas organizações terão que se alterar e procurar novos espaços…
Para uma organização juvenil, a procura destes novos “espaços” não tem de constituir uma perda de identidade no seu trabalho e na sua missão - estas organizações têm de compreender o motivo fundamental da sua existência e enquadrá-lo com a realidade que encontram. Não estou a sugerir que haja uma mudança oportunista mas sim um novo entendimento para valorizar o património e o contributo futuro que estas organizações têm para dar à sociedade - as práticas desenvolvidas por muitas organizações juvenis promovem aprendizagens que podem ser desenvolvidas ao longo da Vida - vemos organizações a promoverem graffiti, jogos informáticos, desportos radicais a públicos alvo em diferentes faixas etárias. Com todo o sentido, pertinência e coerência.
O compromisso com o diálogo intergeracional é mais coerente do que as orientações estratégicas de muitos programas nacionais e internacionais na área da Juventude que olham para os problemas dos jovens numa perspetiva economicista e cega à origem das disfuncionalidades do mercado de trabalho e dos aparelhos de coesão social.
Fotografia de francisco_osorio